quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Exercícios de ficção científica I: um mundo de robôs





Esse texto representa o primeiro de 3 textos que pretendo escrever com o título de exercícios de ficção científica. São textos sobre ramos da ciência ainda não muito desenvolvidos, ou ainda distantes de seus máximos potenciais o bastante para justificar o título de ficção. Pretendo neles descrever as potencialidades que imagino para determinadas áreas do conhecimento e explicar, ou pelo menos fazer com que a minha esperança na tecnologia não se pareça mais otimista do que a facticidade nos permite.

O mundo dos robôs


1. Robôs já existem, mas ainda são rudimentares, os robôs de hoje, estão mais distantes dos robôs de amanhã, quanto o 386 está distante do Pentium 4. Isso por que ainda não temos robôs em casa, aliás, os robôs são muito raros em qualquer lugar que não seja uma universidade de ponta, com bons cursos de pós-graduação em engenharia.

Isso significa que imaginar robôs se tornando parte do cotidiano do homem ainda é um exercício de ficção científica, ou seja, algo que não iremos pensar a não ser que sejamos especificamente estimulados. Como não pretendo criar uma ficção cientifica inteiramente nova, irei me basear primordialmente nos robôs, e num mundo de robôs como descritos por Asimov.
2. O primeiro tipo de robô que iremos imaginar é um robô operário, substituindo o operário humano nas tarefas “inteligentes” realizadas atualmente por humanos. Para isso, temos de imaginar uma fabrica que seja também muito mais automatizada do que são as fabricas de hoje em dia. Vamos pensar em uma fabrica em que a única tarefa a única tarefa realizada por um humano seja ligar e desligar as máquinas, colocar a matéria prima na primeira esteira, e recolher as embalagens na última, além de supervisionar o processo. Imaginando a simplicidade dessa fábrica, não é tão difícil imaginar que ela possa ser controlada exclusivamente por robôs. Imagine que ela nunca seja desativada por completo, apenas para procedimentos de manutenção que podem ser iniciados por leitores eletrônicos, e realizado por robôs capazes de interpretar esses leitores. O resto, depositar a matéria prima na primeira esteira e recolher os produtos já embalados na última, depositando-os no transporte que irá levá-lo até o lugar de consumo.


Temos nosso primeiro robô, o robô operário, realizando funções complexas, que atualmente são realizadas pelos gerentes, enquanto maquinas não inteligentes realizariam as demais tarefas. Com isso, temos a eliminação de grande parte dos trabalhos humanos imagináveis num mundo altamente automatizado. Pare por alguns segundos e tente imaginar as conseqüências disso. Irei descrever a minha imaginação ao final do texto.
3. O segundo tipo de robô pretende eliminar algumas das atividades realizadas por humanos que ainda não conseguimos imaginar sendo realizadas por robôs. Imaginemos um robô babá. Pense que para isso, seria necessário imaginar um robô com uma capacidade emocional muito maior do que a dos robôs operários, esses robôs devem ser capazes de dar carinho, e de perceber os desejos das crianças, articulando uma programação geral em respostas freqüentemente imprevisíveis. Acredito que programar todas as respostas possíveis seja uma tarefa impossível, mesmo num futuro muito brilhante. Não pense que esse robô terá toda a tarefa de cuidar das crianças, lembre que um dos resultados da robotização e da automatização das indústrias fez com que as pessoas tivessem muito tempo livre para cuidar de seus filhos e idosos. Mas ainda assim, esses robôs babás seriam muito versáteis, eles poderiam ser também robôs médicos e enfermeiros capazes de diagnosticar todas as doenças já identificadas (Essa tarefa, a pesquisa cientifica eu ainda não consigo imaginar sendo realizada por robôs) Esses robôs substituiriam não só as babás, as creches, mas também grande parte da atividade hospitalar. Os hospitais seriam úteis apenas para tratamento, não mais para diagnóstico.

Faltou imaginar, que as tarefas intermediárias também podem ser todas realizadas por robôs, sem muita dificuldade, robôs poderiam transportar os produtos entre uma fabrica e outra, entre as fabricas e as “lojas” e entre as lojas e as casas. Além disso, os robôs poderiam levar os doentes até os hospitais, ou tratarem eles mesmos em casos mais simples. Imagine novamente as conseqüências disso.

4. Por fim, vamos imaginar um terceiro tipo de robôs, um tipo de robôs responsável por produzir os novos robôs. Esses robôs seriam dotados de uma programação geral, assim como os robôs babás, mas para a tarefa de projetar robôs mais adequados anatomicamente para determinadas tarefas, e também para controlar a produção da “maternidade de robôs” e também para o diagnóstico e tratamento de possíveis defeitos. Teríamos uma grande consideração pelos robôs, e evitaríamos descartá-los, apenas produziríamos peças para substituir peças defeituosas, os robôs seriam os seus processadores, da mesma forma que os humanos são seus cérebros, no senso comum.

5. Agora, vou retratar as conseqüências conforme eu as imaginei:

Primeiramente, eu imaginei que não existirá mais trabalho, não da forma como conhecemos, “exploração de mão-de-obra”, as tarefas que não consegui imaginar sendo realizadas por robôs, seriam realizados pelos humanos com prazer: Filosofia, artes, pesquisa científica, etc.
Pensei que com isso, não existiriam mais economia como a conhecemos, “relação de troca de recursos escassos entre pessoas”, a única economia necessária seria a economia ambiental, e de fato os humanos teriam de se esforçar bastante para desenvolver formas de gerir um desenvolvimento cada vez maior e cada vez mais sustentável.

Com o fim do trabalho e da economia, não existiria desemprego, mas ócio criativo, as pessoas dedicariam seu enorme tempo livre para praticar esportes, produzir e apreciar artes, a produção cultural seria incomensurável. Com a pratica de exercícios, as pessoas seriam mais saudáveis, e ninguém teria preguiça de se exercitar, exceto ocasionalmente, por que elas não estariam cansadas demais, ou estressadas demais para isso.

Uma vez que as pessoas teriam mais saúde, elas provavelmente viveriam muito mais e teriam muito mais tempo para ainda assim não conseguirem experimentar todas as sensações possíveis, tanto as sensações físicas quanto as culturais. Além disso, com o fim da economia, as pessoas não teriam por que explorar umas as outras, e os frutos do desenvolvimento tecnológico finalmente poderiam ser aproveitados por todos.

Duas questões permanecem, fazendo com que a minha imaginação otimista possa ser uma grande ilusão, seriam elas: Quem iria elaborar as leis? E como evitaríamos que as pessoas fossem más umas com as outras? Essas questões, sobre o fim do direito, e da maldade, entre outras tantas, pretendo responder com o próximo texto, e com ele o nosso segundo exercício de ficção científica.

Abraços,

Mateus Morais Araújo

5 comentários:

Ricardo Horta disse...

Mateus,

Vou fazer um comentário que pretendo instigante.

Você está pensando em categorias de robôs que precisariam ser "programados", e, segundo você, os mais complexos trariam consigo o problema de que não poderíamos prever todas as situações possíveis (de problemas, ou emoções, ou escolhas morais) para programá-los.

Mas, aproveitando aquela exposição sobre Filosofia da Mente: um dos impasses do funcionalismo se deu quando se percebeu que a discussão de Inteligência Artificial esbarrava na questão da Consciência.

Se os robôs fossem Conscientes, então eles mesmos aprenderiam o que é melhor fazer, o que é correto, o que é desejável. Não precisaríamos programar todos os cenários possíveis.

E se a Consciência humana for desvendada pela ciência? Como fica seu cenário Sci-Fi?

Anônimo disse...

Mateus, vc é um grande COMUNISTA SAFADO!
Segundo o saudoso Marcelo Piaba que nos deu aulas sobre Marx no primeiro período, esse é em termos exatos o que vislumbrava Marx sobre a tecnologia.

Anônimo disse...

Mateus, vc é um grande COMUNISTA SAFADO!
Segundo o saudoso Marcelo Piaba que nos deu aulas sobre Marx no primeiro período, seu texto é em termos exatos o que vislumbrava Marx sobre a tecnologia.

Mateus disse...

Eu penso, que seria desejável que os Robôs fossem programados.

Atente-se para o fato de que eu "behaviorista" penso que de certa forma nós humanos somos programados, você acredita nisso de forma mais firme que eu.

Em outras palavras, eu penso em robos auto-conscientes, mas robos auto-conscientes e com consciencias humanas, seriam perigosos demais. Vide o filme Eu robô, é só um exemplo.

Mas vamos falar de humanos e informações depois...

Anônimo disse...

Do not say behaviorist. BehaviOUrist is much better.